A importância da atenção no processo de aprendizagem

O desenvolvimento de uma criança ou adolescente supera diversas etapas que exigem uma gama diversificada de estímulos para o pleno aproveitamento do seu potencial cognitivo. Alguns períodos da vida são muito mais propícios, do ponto de vista neurológico, do que outros, para ampliar grandemente a utilização desse potencial. Esses momentos são chamados de períodos críticos ou sensíveis, em que as sinapses (conexões) cerebrais ocorrem em dobro, favorecendo uma maior absorção de conhecimentos novos, com muito mais facilidade do que em outros momentos da vida.

Um dos grandes saltos de aprendizagem ocorre entre os dois e os sete anos de idade. É como se nesses momentos nosso cérebro fosse uma grande esponja, que ao invés de absorver apenas uma pequena colherada de água, absorve um copo cheio.

 

Mas como usar esses momentos do neurodesenvolvimento da criança a favor da aprendizagem? 

Há várias habilidades que podem ser exploradas para favorecer a plasticidade cerebral  da criança. Algumas delas são essenciais no processo de alfabetização, tanto na leitura e na escrita, quanto na matemática, como por exemplo: a memória de trabalho, a atenção e as habilidades fonológicas.

Entre essas, vamos falar especificamente sobre a atenção, pois é uma das habilidades mais prejudicadas e defasadas pelo uso excessivo de mídias e dispositivos eletrônicos em livre demanda, em conjunto com o declínio na qualidade de ensino nas últimas décadas.

O desenvolvimento da capacidade de atenção é fundamental para todo o processo de aprendizagem, inclusive das crianças com condições limitantes como TDAH e TEA.

Dois tipos de atenção se destacam nesse processo: 

  • Atenção seletiva, que nos permite ter a capacidade de focar em determinado elemento de nossa escolha em detrimento de outros que possam dividir nosso foco naquele momento;
  • Atenção sustentada, que nos dá a capacidade de manter o interesse e o foco numa determinada ação ou elemento durante um longo período de tempo, sem distrações.

 

E como estimular esses tipos de atenção?

Durante a infância, e até mesmo na vida adulta em indivíduos com déficit de atenção, os instrumentos concretos e de manejo simples (objetos de uso pedagógico como blocos de montar, material dourado, alfabeto móvel, etc.) são comprovadamente muito eficazes, tendo inclusive sido experimentados cientificamente em diversos estudos ao redor do mundo. Dentre esses instrumentos concretos, temos a opção de um excelente método de aquisição e desenvolvimento de diversas habilidades: o soroban (ábaco japonês).

O soroban estimula e fixa na memória de longo prazo as habilidades matemáticas, de forma lúdica, concreta e gradual, tornando-se um apoio mental seguro que trará inúmeros benefícios ao desenvolvimento da criança, incluindo crianças com transtornos de aprendizagem e neurodesenvolvimento, deficiência intelectual e visual, mantendo esses benefícios para o resto da vida.

Alguns dos benefícios resultantes da prática de soroban, além do estímulo e sustentação da atenção, são o aumento da criatividade e da capacidade de raciocínio lógico, memorização, gosto pela matemática, ampliação da capacidade de resolver problemas e desenvolvimento da coordenação motora fina.

A prática desse instrumento leva também a melhorias nas relações interpessoais das crianças, estimulando-as a superar desafios e obstáculos com autonomia e paciência, habilidades cada vez mais escassas e essenciais para a vida escolar e o mercado de trabalho. 

Lembrando que a prática do soroban não se limita à idade, podendo ser benéfico e recomendável o seu uso inclusive para adultos e idosos.

Com a criação do hábito da prática diária, mesmo ocupando pouco tempo para o seu exercício, o soroban, sem dúvida, torna-se um grande aliado na estimulação da atenção e das habilidades gerais de quem o utiliza, trazendo benefícios a curto e longo prazos.

A prática frequente do soroban também causa melhorias na saúde mental, pois exercitar o cérebro é tão importante quanto exercitar o corpo, contribuindo até mesmo para a prevenção de doenças como a depressão, cada vez mais comum entre crianças e adolescentes.

 

Referências

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ANDRADE, P. E.; FRANCO, A. S.; MARTINS JUNIOR, J. C. Neurodesenvolvimento e neuroplasticidade – parte 3: linguagem e inteligência – uma revisão de Piaget. Ciências e cognição, Rio de Janeiro. 2013. Disponível em: <http://cienciasecognicao.org/neuroemdebate/arquivos/783#:~:text=Per%C3%ADodos%20cr%C3%ADticos%20s%C3%A3o%20fases%20de,de%20espera%20com%20desenvolvimento%20inadequado. Acesso em: 07 mar. 2021.

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